A Economia de Vigilância & Porquê Privacidade Realmente Importa

A Economia de Vigilância & Porquê Privacidade Realmente Importa

Privacidade é um direito humano básico - e está sob constante ataque na era moderna digital. De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos:

“Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.”

Ainda assim, esse princípio básico está sendo violado para fins de lucro, vigilância, e outros motivos inadequados. Nesta série de artigos vamos explorar os motivos que levam ao aumento da economia de vigilância, o porquê da privacidade ser realmente importante, e o que devemos considerar na escolha de ferramentas que melhor podem nos proteger.

Três Problemas Decorrentes da Economia de Vigilância

Problema #1 - Incentivos Financeiros Desproporcionais

A ascensão do “Big Data” criou um incentivo massivo para coletar dados e reunir o máximo de informações sobre cada um de nós - no que muitos chamam de “economia de vigilância”. Nossos dados são coletados por meio de um software (que frequentemente é distribuído de forma gratuita), e são vendidos para alimentar a economia de publicidade digital, a qual já ultrapassa o valor de 300 bilhões de dólares e representa aproximadamente metade do mercado global de publicidade. Quando observamos que os produtos, projetados para fornecer experiências pessoais, sociais e convenientes, costumam ser muito menos lucrativos do que os dados coletados, percebemos que esse modelo de negócio é falho.

Em “What web3 looks like”, Gavin Wood declarou:

“Confiar nossa informação em organizações em geral é um modelo fundamentalmente equivocado. A chance de uma organização não interferir em nossos dados é, meramente, o esforço necessário menos os ganhos esperados.”

Em resumo, os produtos digitais e plataformas ganham mais dinheiro a partir dos dados extraídos do que dos serviços prestados. Empresas que criam produtos digitais e serviços estão profundamente incentivadas a capturar os seguintes dados:

  • Nome, idade, gênero;
  • Número de telefone, email;
  • Como nos comportamos e parecemos;
  • Nossos gostos e interesses;
  • Nossa localização física: onde trabalhamos, onde moramos e onde nós vamos.

Problema #2 - Identificação de Perfis Online

Para ilustrar o problema acima, você pode ver a quantidade de dados que o Google coleta de você baixando um arquivo aqui (esteja preparado… é muito). Mantenha em mente que isso é somente uma única empresa. Quanto mais confiança depositamos em um “software grátis”, mais detalhados esses perfis online se tornam.

A alta margem de lucro obtida da extração de dados, combinado com o crescimento da publicidade digital, resulta na identificação precisa de personas digitais. Os donos de plataformas são financeiramente motivados para criar novas maneiras de rastrear nosso comportamento online. Aprimorando cookies, serviços de localização de dados, dispositivos IoT, reconhecimento facial, entre outros, eles podem nos conhecer quase melhor do que nós mesmos.

Problema #3 - Bancos de Dados Centralizados

A atual infraestrutura da internet opera no modelo cliente-servidor. Servidores centralizados são usados para processar bilhões de transações e armazenar os perfis online mencionados acima. Esses perfis compreendem petabytes de dados, e estão todos armazenados em servidores, localizados em algum lugar.

Esse processo representa um problema massivo, na medida em que essas informações estão acessíveis para alguém, em algum lugar. Esses dados não são utilizados somente para o mercado de 300 bilhões de dólares da publicidade, mas também se tornam um vetor de ataque para agentes mal-intencionados. Isso se tornou notório nos últimos anos, com casos de grandes vazamentos de dados, além de agências governamentais exigindo acesso a mensagens pessoais e dados de logs dos servidores.

Modelo de negócio incentivado + Perfis digitais precisos + Bancos de Dados centralizados = Extrema falta de privacidade

Mas eu não estou escondendo nada...

Algumas pessoas se opõem à crescente preocupação com a quebra de privacidade afirmando: “Bom, eu não estou fazendo nada de errado ou ilegal, então eu não tenho nada para esconder”. Esse é exatamente o tipo de mentalidade que impulsionou o mercado de publicidade digital e a "economia de vigilância" para mais de $300 bilhões.

Não importa quem você é ou de onde você veio, privacidade é importante. Estudos mostram que quando as pessoas sabem que estão sendo observadas, elas se comportam de uma maneira diferente, o que pode ser visto como uma inibição de quem realmente são. Em termos simples, a vigilância (seja corporativa ou governamental) pode alterar o comportamento das pessoas, tornando-as conformistas (McSweeney's issue #54: "The End of Trust.")

A ideia de conformidade como consequência da vigilância é bem explicada por Glenn Greenwald em seu Ted Talk de 2014:

“[Ao aceitar ser vigiado] Eu concordei em me tornar uma pessoa tão inofensiva, não ameaçadora e desinteressante, que, atualmente, eu não temo que o governo saiba o que estou fazendo.”

Isso converge com a missão da Status Network quando dizemos que “através da privacidade preserva-se a cultura”.

Portanto, não são somente pessoas más, escondendo informações ilegais dos governos, que precisam de privacidade. Não são somente delatores, jornalistas, e ativistas lutando para revelar a verdade que precisam de privacidade. Se estamos apoiando a verdadeira liberdade de expressão e preservação da cultura, então todos deveriam ter o direito à privacidade real.

Para concluir

O atual cenário da publicidade digital criou um incentivo financeiro desproporcional para organizações, de todos os tipos e tamanhos, extraírem o máximo de dados possíveis. Software gratuito, no fim, não é “gratuito”. Esse modelo está encorajando plataformas a surgir com novas maneiras, às vezes antiéticas, para coletar dados usados na criação de perfis pessoais altamente precisos para cada um de nós. Esses dados são armazenados em servidores centralizados, acessados por um seleto grupo que pode atingir uma grande quantidade de pessoas.

Esse modelo está alterando a cultura como nós a conhecemos. A vigilância constante pode ter impactos comportamentais na sociedade, estejamos escondendo algo ou não. Portanto, no fim, sim, a privacidade de fato importa e nós devemos lutar para garantir esse direito humano básico.

Criar ferramentas de preservação da privacidade e usá-las na vida cotidiana é de responsabilidade das organizações e indivíduos, a fim de assegurar nosso direito humano básico à privacidade.


Nos próximos artigos, vamos explorar quais cuidados tomar e falaremos sobre ferramentas para proteger a sua privacidade online. Enquanto isso, use um mensageiro privado agora e instale o aplicativo da Status na App Store, Play Store e via APK aqui.

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